MATROSS. VENTANIA, TUFÃO OU FURACÃO?

O MPLA, ou este MPLA de João Lourenço, vive turbulências internas que podem levar à sua implosão. A velha receita, mesmo com ementa “gourmet”, de culpar a UNITA de todos os males já não resulta. A prová-lo aí está um manifesto de veteranos da pátria e militantes do MPLA em defesa do camarada Dino Matross.

Atentemos nas teses deste manifesto, assumidamente destinado aos “camaradas e militantes do MPLA”:

«É com grande desagrado que tomamos conhecimento das acusações infundadas e das insinuações levianas que têm circulado a respeito das posições e acções do Camarada Dino Matross dentro do nosso glorioso partido. A recente entrevista que concedeu está a ser utilizada de forma maliciosa pela equipa do Palácio e, infelizmente, transformada em arma de ataque por aqueles que parecem estar mais interessados em promover divisões do que em buscar a unidade do MPLA.

«É importante esclarecer que as alegações de que o Camarada Dino Matross está a conspirar contra o Presidente João Lourenço são totalmente falaciosas. Estes ataques não só desrespeitam a sua longa história de militância, como também ignoram os princípios fundamentais que regem a nossa organização política. O que realmente está em causa é o respeito pelos estatutos do MPLA, que são claros em relação à promoção de múltiplas candidaturas e à democracia interna.

«Defender a democracia interna e o direito dos militantes de escolherem os seus líderes é uma obrigação de todos nós, e acreditamos que o Camarada Dino Matross não deve mudar a sua posição em decorrência de pressões ou intimidações. A verdadeira força do nosso partido reside na diversidade de vozes e na livre escolha dos seus membros. Contrariar isso seria uma traição aos ideais que todos nós defendemos.

«É lamentável ver algumas vozes a recorrerem a ataques pessoais em vez de se engajarem em um debate construtivo sobre as nossas visões para o futuro do MPLA e do nosso país. Em vez de buscar soluções e propostas que possam unir o nosso partido, preferem lançar insultos e promover divisões. O Camarada Dino Matross nunca foi, nem será, um defensor da fragmentação; defende sim que todas as vozes dentro do MPLA sejam ouvidas e que cada camarada tenha a liberdade de expressar as suas opiniões sem medo de represálias.

«Afirmar que o Camarada Dino Matross é contra o Camarada João Lourenço e o seu governo, ou que é um traidor por defender a democratização do partido, é não só desonesto, mas demonstra um profundo desrespeito por um dos pilares do MPLA: a luta pela liberdade e justiça. Como todos sabemos, as eleições livres e justas são a única forma de garantir que o poder emana verdadeiramente dos militantes, amigos e simpatizantes, sem exclusão.

«O Camarada Dino Matross não tem nada a provar quanto ao seu compromisso com Angola e com o MPLA. Os membros da Direcção do partido reconhecem que o seu papel foi determinante na transição da liderança entre o Camarada José Eduardo dos Santos e o actual Presidente. O Camarada Matross foi um dos poucos que se bateu contra a bicefalia e apoiou incondicionalmente o Presidente João Lourenço; há registros, há dados e há factos que atestam isso.

«Aproveitamos esta oportunidade para apelar à unidade e à reflexão, convocando todos nós que verdadeiramente amamos o MPLA a não sucumbir às manobras de intimidação que a equipa do Palácio está a implementar e que irá intensificar nos próximos tempos. Eles conhecem mal o MPLA e, por conseguinte, a verdadeira arte de gestão do poder.

«Precisamos de ser capazes de colocar os interesses do povo angolano e do MPLA acima das nossas ambições pessoais ou ressentimentos. Rejeitamos qualquer tipo de estigmatização que rotule o Camarada Dino Matross e os demais veteranos e membros de destaque do nosso MPLA apenas por discordarem da actual liderança. Ao contrário, todos sabemos quem são os verdadeiros militantes dedicados ao partido, que sempre defenderam o seu fortalecimento através de práticas democráticas.

«Camaradas, independentemente de que tipo de ameaças venham do Palácio, sejamos unidos e não permitamos a violação dos estatutos. Não devemos apoiar nenhum terceiro mandato e muito menos concordar que o processo de sucessão do Presidente do Partido seja conduzido apenas pelo Camarada Presidente João Lourenço e a sua equipa, pois está claro que, internamente, devemos buscar a coesão. A nossa luta deve sempre ser pela manutenção do poder e pelo trabalho conjunto em prol da justiça e da democracia, porque é isso que realmente importa.

«Em vez de olharmos para trás, que tal olharmos para a frente juntos? Estejamos abertos ao diálogo e ao debate construtivo para que possamos, como uma verdadeira família, construir o futuro que todos desejamos para o MPLA e para Angola.

«Juntos seremos mais fortes, e as nossas vozes, unidas, constituem a força que pode levar o nosso partido a novas alturas.»

Mas, tal como este apelo colectivo, outros há que são tomados a nível individual ou (gato escaldado de água fria tem medo) sob anonimato.

Um destes diz ser um “Apelo à consciencialização e mudança de paradigmas para melhorar a vida e minimizar as incertezas no país.» Ei-lo:

«Qualquer militante do MPLA têm consciência do caos que existe no sector da saúde, da falta de acesso a creches e ao ensino pré-escolar, factores que contribuem para um elevado nível de analfabetismo em várias latitudes do território angolano, a falta de condições e padrões aceitáveis existentes nas condições de trabalho das forças de defesa e segurança, o excesso da presença pública no sector empresarial a operar no mercado acarretando custos desnecessários ao estado, a incipiente fiscalização e regulamentação das acções que culminam com a paralisação do mercado, factor inibidor da diversificação da economia e competitividade nacional são motivo para uma reflexão e tomada de decisões urgentíssimas para evitar a degradação e o colapso total de Angola.

«A outra preocupação prende-se com a juventude onde os seus anseios não são compatíveis com a dinâmica empreendida pelo actual governo liderado pelo nosso partido, é preocupação de muitos militantes e não exclusiva minha essa triste realidade. Dai a necessidade de sensibilizar todos os militantes de Cabinda ao Cunene do leste ao mar para nos focarmos em encontrar uma solução urgente que venha a reduzir a ansiedade dos jovens face ao seu desejo de afirmação, enquanto seres socialmente úteis para Angola, um país cheio de oportunidades e recursos. É imperioso pensar unicamente em dar e ceder condições sociais possíveis, para que os nossos jovens se sintam valorizados e encontrem oportunidades para se sentirem úteis e contribuírem para o crescimento do país.

«A hora é essa, não podemos cruzar os braços e continuar a fingir que está tudo bem, é necessário uma nova consciencialização colectiva de todos os militantes, temos a obrigação, repito, a obrigação de resolver os problemas de Angola que estão ao nosso alcance e são para o partido uma questão de honra e lealdade à pátria.»

Recorde-se, entretanto, que há um ano (Julho de 2023) Dino Matross aconselha João Lourenço a não concorrer a um terceiro mandato. Para este general e antigo secretário-geral do MPLA, essa opção não seria boa e, além disso, o partido não tinha deputados suficientes para aprovar uma emenda constitucional neste sentido.

Ao falar num evento denominado “Ao encontro da História”, realizado pelo Movimento dos Estudantes Angolanos, o veterano do partido no poder há 49 anos destacou que a possibilidade de João Lourenço concorrer para mais um mandato, nunca foi discutida, nem internamente nem fora do partido.

O general reiterou que “nunca o ouviu falar disso publicamente nem no partido, também nunca ouviu falar deste problema… para mim devem ser só as pessoas que o querem denegrir e espero que seja assim, ele sabe que não tem deputados que possam aprovar isso ainda que queira”.

Numa extensa entrevista à Voz da América, em Dezembro de 2022, João Lourenço negou que estivesse à procura de um terceiro mandato Presidencial. Em Maio de 2023, também em entrevista à cadeia televisiva France 24, respondeu ao assunto quando questionado: “Acabámos de sair das eleições agora. As próximas serão em 2027. A minha resposta está dada, se calhar podemos falar disso mais lá para 2027”.

Na altura, o nome de Dino Matross “saltou” logo para a ribalta. Desde logo porque não se trata de uma figura menor, de segunda linha. Ele conhece muito bem o próprio partido, domina os meandros da governação, nomeadamente os dossiers mais sensíveis, quer os do MPLA, quer os do Estado.

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